E se o doping fosse do Bolt?

Anderson Silva se prepara para enfrentar Nick Dias: doping do brasileiro é uma derrota feia do esporte
A madrugada desta quarta-feira mal havia começado quando a notícia pipocou nas várias telas abertas do computador, obviamente com efeitos devastadores. A informação de que o lutador brasileiro Anderson Silva havia sido flagrado em um exame antidoping fora de competição – e com dois tipos diferentes de anabolizantes presentes -, antes do combate que marcou sua volta ao UFC no último sábado, quando venceu Nick Dias, ainda deixa muita gente chocada.
Mas o que a notícia de um doping de um lutador de MMA (artes marciais mistas, na sigla em inglês) tem a ver com um blog sobre esportes olímpicos? A despeito do total desinteresse do blogueiro sobre uma modalidade que conta com milhares de fãs e com uma tropa igualmente numerosa de opositores, tem tudo a ver.
Explica-se: quando um ídolo da gigantesca dimensão que Anderson Silva tem – e não apenas no Brasil – falha em um controle de doping, justamente às vésperas da luta que marcaria seu retorno ao esporte, após uma fratura chocante e transmitida ao vivo, é a prova viva da derrota do esporte.
Faz um certo tempo que comentei por aqui uma frase dita por uma das maiores autoridades no combate ao doping no Brasil, o médico gaúcho Eduardo de Rose. Em julho de 2013, duas das maiores estrelas do atletismo, o americano Tyson Gay e o jamaicano Asafa Powell, tiveram casos de doping revelados, às vésperas do Mundial de Moscou. E ao escrever o post, lembrei-me de uma frase do doutor De Rose, dita durante uma entrevista coletiva: “O doping sempre estará à frente da luta contra as entidades que combatem as substâncias proibidas”.
Por isso, não é exagero dizer que a credibilidade na lisura do esporte morre um pouco a cada caso explosivo de doping como esse de Anderson Silva. Como também ocorreu em 1988, quando após assombrar o mundo na vitória nos 100 m rasos nas Olimpíadas de Seul, o canadense Ben Johnson teve sua medalha cassada após ter sido flagrado pelo uso de anabolizantes. Da mesma forma como abalou a credibilidade a descoberta do terrível esquema de doping montado na Alemanha Oriental nos anos 60 e 70, certamente responsável por vários campeões dopados que jamais foram descobertos.
Ou para ficar em um exemplo mais recente, o inacreditável caso do ciclista Lance Armstrong, que em janeiro de 2013 admitiu que um complexo esquema de doping que o acompanhou em toda a sua carreira e o ajudou a ganhar sete vezes a tradicional Volta da França.
Faça um exercício de imaginação e tente pensar como seria sua fé em um esporte limpo e justo se amanhã surgisse a notícia de que todas as conquistas do jamaicano Usain Bolt ou do americano Michael Phelps só ocorreram por força de substâncias proibidas?
É melhor nem pensar neste pesadelo, certo?