Um tiro certeiro na monocultura esportiva
O maior legado (diria até obrigação) da conquista do direito de organizar os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro é tentar por um fim na monocultura esportiva Brasil. Mas infelizmente não será em sete anos que isso se resolverá, não importa que queiram nos empurrar goela abaixo que somos ou estamos no caminho de nos tornar uma potência esportiva. Isso é trabalho para as próximas décadas, onde os resultados obtidos pelas equipes brasileiras nas próximas Olimpíadas poderão sim ter grande influência em uma mudança de postura – mas acima de tudo, é um trabalho de formiguinha, de longo prazo.

Com apenas 16 anos, Marcus Vinícius D’Almeida faturou de forma inédita a medalha de prata da Copa do Mundo de tiro com arco neste domingo
Enquanto isso, por culpa de décadas de atraso na implantação de uma política esportiva (que só nos últimos anos, na esteira da vitória na eleição do COI de 2009, vem mudando de forma gradativa), por ignorância de grande parte do público e por completo desinteresse dos principais veículos de mídia do país, o esporte do Brasil resume-se, em 90% dos casos, ao futebol. Vez ou outra fala-se do vitorioso voleibol de seleções, exaltam-se conquistas de ídolos consagrados como Cesar Cielo ou Guga, ou comemoram-se conquistas isoladas, como o emocionante título mundial feminino de handebol em 2013. Mas a verdade é que o Brasil só vira “olímpico” de fato a cada quatro anos.
Infelizmente essa é a dura realidade, doa a quem doer. Porém, isso está mudando aos poucos.
Uma pequena prova disso ocorreu na manhã deste domingo, 7 de setembro. Uma modalidade nanica no Brasil, praticamente ignorada pelo grande público, o tiro com arco viveu algumas horas de protagonismo, aos menos na timeline esportiva das redes sociais, graças a um garoto de 16 anos, nascido no Rio de Janeiro e que nem terminou ainda o ensino médio. De forma inédita, Marcus Vinícius D’Almeida chegou à final da Copa do Mundo de tiro com arco, em Lausanne (SUI), perdendo a medalha de ouro apenas no chamado “shoot-off” (flecha desempate), após a igualdade em cinco sets com o americano Brady Ellison. medalha de prata por equipes nos Jogos Olímpicos de Londres 2012.

O pódio da final da Copa do Mundo em Lausanne, com Marcus Vinícius, o americano Ellison e o holandês Van der Ven, que levou o bronze
O feito de Marcus Vinícius é espetacular, primeiro pela pouca idade (16 anos) e também pelo fato de ter chegado à final da Copa do Mundo como o mais novo arqueiro da história a atingir este feito e na condição de nono colocado no ranking mundial da Fita (Federação Internacional de Tiro com Arco). O leitor do iG Esporte pôde conhecer um pouco mais de história do jovem prodígio brasileiro no mês de agosto, pouco antes de iniciar sua participação nas Olimpíadas da Juventude, em Nanquim (CHN), onde também terminou com a medalha de prata.
Não irei cravar aqui que Marcus Vinícius D’Almeida será medalha em 2016. Jornalista não é vidente. Fica claro, porém, que o garoto é um atleta a ser colocado no radar para ser acompanhado detalhadamente nos próximos anos. Assim como outros grandes talentos de modalidades ignoradas pelo público e mídia, como é o caso de Isaquias Queiroz, bicampeão mundial da canoagem velocidade C1 500m (modalidade não olímpica).
Se por causa de atletas como eles o Brasil parar um pouco de viver essa irritante monocultura esportiva, esse será o grande legado que os Jogos Olímpicos de 2016 deixarão para este país.