
Isaquias Queiroz exibe a medalha de ouro conquistada no Mundial de canoagem. Esforço em vão?
“Agora tenho que assinar uns documentos da Confederação, pedem para dizer que tenho 2 remos que na verdade nunca chegou em minhas mãos, dedico minha vida inteira a canoagem e a Confederação nada faz por mim, tenho um documento em mãos que quando ganhei o mundial em 2011 meu ex-treinador ganhou 10 mil por medalha e naquela ocasião ganhei duas, na soma são 20mil reais e para mim o presidente me levou para comer no Mc Donald’s”
Passa o tempo, mas alguns hábitos vergonhosos ainda insistem em sobreviver no esporte brasileiro. O último exemplo foi mostrado em oportuna reportagem do portal de esportes olímpicos Ahe!, parceiro do iG Esporte, trazendo o desabafo do baiano Isaquias Queiroz, que no início deste mês de setembro tornou-se o primeiro brasileiro campeão mundial de canoagem, na categoria C1 500 m (prova não olímpica), em Duisburg, na Alemanha. Ele também faturou o bronze na prova C1 1.000 m. Trata-se, portanto, de uma esperança de medalha para as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.
Na hora, foi aquela festa, a CBCa (Confederação Brasileira de Canoagem) estampou a notícia com destaque em seu site, o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e Ministério do Esporte também tiraram suas respectivas casquinhas, exaltando que o feito foi obtido com a ajuda de recursos financeiros e técnicos das duas entidades (o que é verdade, diga-se de passagem).
O problema é que passado quase um mês da histórica conquista, o que Isaquias Queiroz ganhou além do que tapinhas nas costas? Nada, absolutamente nada.
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Além de demonstrar uma profunda decepção por não ter recebido qualquer recompensa pelo resultado histórico, ainda desabafou ao recordar uma esdrúxula punição de R$ 1.000,00 por ter aparecido em uma fotografia sem estar usando o uniforme oficial da CBCa. E fez uma denúncia mais grave, ao revelar que um atleta baiano, prata no Pan do Rio 2007, nada recebeu por sua conquista, ao contrário de outros atletas, do Sul do país, que teriam sido recompensados financeiramente pelas medalhas.
Sem falar na surreal história do McDonald’s…
O pior de tudo é que provavelmente Isaquias Queiroz será punido pela sua confederação, pelo desabafo feito via Facebook (situação que, por sinal, ele mesmo previu no próprio texto).
Um fato que precisa ficar muito claro é que a CBCa, assim como todas as confederações olímpicas, recebem verbas da lei Agnelo/Piva, que destina 2% do que é arrecado nas loterias brasileiras. Ou seja, elas têm a OBRIGAÇÃO de prestar contas de forma clara à população. Só a título de curiosidade, o presidente da Confederação, João Tomasini Schwertner, está no cargo desde 1989! Ele é um dos cartolas que terá vida curta no esporte nacional, com a aprovação da MP 620, que limita o mandato de dirigentes de entidades esportivas, aprovada tanto na Câmara Federal quanto no Senado, e que aguarda sanção da presidenta Dilma Rousseff.
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Ainda há um longo caminho a ser percorrido para mudar a estrutura podre do esporte brasileiro, que em muitos casos continua tratando muito mal seus campões.
Com a palavra, COB e Ministério do Esporte.